
“Menina linda, o que você vai ser quando crescer?”
Antes mesmo de uma criança nascer, o chá de revelação: será menina ou menino? Pinta o mundo de azul clarinho ou cor de rosa bebê?
Se é menina o imaginário é preenchido de laços, vestidos, brincos, e no futuro rabisca-se a festa de 15 anos e ‘o dia mais feliz da vida dela – o casamento’.
Ainda é muito assim. E os padrões sociais vão construindo imagens que perduram durante um bom tempo no processo de individuação feminina.
Durante a puberdade e a adolescência a menina passa por transformações físicas, psíquicas e sociais, um aspecto fundamental do desenvolvimento. “A entrada na adolescência é o momento em que as identificações começam a se transformar em identidade”; parafraseio Viviane Namur Campagna.
Faz parte do processo de desenvolvimento que as meninas se deparem com conflitos internos sobre suas identidades. São impostos diversos padrões comportamentais de como meninas ou mulheres devem agir, vestir, e padrões de beleza que devem seguir para serem valorizadas. Nos é dito “quem devemos ser”.
Desde a infância inserida num forte sistema patriarcal, as meninas são ensinadas a se portarem de forma adequada ao que é ser menina, futura mulher. Comportamentos socialmente construídos, provenientes do sistema patriarcal, que dificulta o processo de individuação da menina em tornar-se mulher, indivíduo, despertando para a descoberta de sua verdadeira identidade.
Em diversos âmbitos podemos observar os ditames do comportamento feminino e dentre esses, a indústria cinematográfica e seus filmes direcionados ao público infantil feminino que avança por diversas faixas etárias, e em sua grande maioria, histórias protagonizadas por belas princesas, delicadas e magras, cujo principal objetivo é encontrar um homem perfeito, um príncipe. Casarem-se, formarem uma linda família e serem felizes para sempre.
Em contrapartida, felizmente, há o despertar da realidade a partir de contos como “O Barba Azul” e “A Bela e a Fera” que exploram o marco da transformação da menina em mulher.
Histórias que contemplam símbolos fundamentais do processo de desenvolvimento, independência e autonomia do feminino, a partir do diálogo com o inconsciente, com a verdade íntima, com a descoberta da ‘natureza selvagem da mulher’, indícios de como pode se relacionar com esta dimensão da vida. Mais realista, menos idealizada.
É necessário ensinar nossas meninas a se tornarem elas mesmas, livres dos padrões rígidos impostos por uma sociedade muitas vezes perfeccionista. Além de aprisionar em ideais impossíveis de alcançar, felicidades irrealistas e prisões psíquicas que roubam seu direito a liberdade de ser elas mesmas!
Para concluir me parece útil citar Simone de Beauvoir: “Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre”.
‘Meninas de hoje, mulheres de amanhã’, não temam ser livres. Sejam, com toda a responsabilidade e a alegria que a liberdade pede e a gente merece!
Ana Júlia Evangelista Fontes
Acadêmica de Psicologia da UFPR
Estagiária da Psicobela Saúde Emocional